quinta-feira, 14 de outubro de 2010

ócio

“Como ao bem ocupado não há virtude que lhe falte, ao ocioso não há vício que não o acompanhe “ Mateo Alemán

Admito que às vezes sou um ocioso compulsivo! Não sendo o meu único pecado, é no entanto um dos que mais prezo. Dias de completa ociosidade, a beleza do dolce far niente!
Domingo passado foi um desses dias de pura preguiça, em que limito o gasto energético a actividades meramente biológicas e higiénicas, sim que mesmo não fazendo nada ou quase nada, não dispenso um bom duche. Basicamente durmo o máximo de horas possíveis, compensado o saldo negativo que levo da semana, tomo um banho demorado, quase um quarto de hora só a tirar remelas, permito-me não desfazer a barba, faço um farto pequeno-almoço e escapo ao almoço. Saboreio lentamente enquanto leio o que restou do expresso comprado na manha de sábado, aproveito a mesa da sala para abrir o jornal mal iluminado, pela luz do fim da manha dum domingo cinzento.
Não lavo a loiça, hoje não que ócio é sinónimo de descanso, vagar, lazer. Enrosco-me no sofá, o tempo arrefeceu e pede uma manta aberta sobre mim, adormeço de livro aberto. Alguns raios de sol vieram anunciar um fim de tarde mais animado, impulsionado ou não por essa proclamação, faço tocar na aparelhagem a divina Ella Fitzgerald interpretando a obra de Gershwin. E preparo o jantar, sem pressa, que essa já se sabe é inimiga da perfeição! Minutos de contemplação para o interior de um frigorífico quase cheio de nada, penso na lista de compras que deixei a meio.
Lanço os cogumelos portobello em água morna enquanto corto o peito de frango em fatias finas, deixo a marinar um pouco em molho de soja e piri-piri, não tenho gengibre. Pico meia cebola e um alho para dentro do wook, um refogado perfumado para cozinhar o frango. Corto o alho francês e os cogumelos em fatias e adiciono à carne que está quase pronta, ervilhas congeladas lá para dentro e por último escorro uma lata de rebentos de soja, misturando tudo com mais um pouco de molho de soja et voilà, é quase um chop suey de frango!
Sento-me no parapeito da janela, contemplo o fim de um dia perfeito, enquanto travo uma pequena batalha com os pauzinhos e o resto dos rebentos de soja que teimam não se deixar apanhar, agarrados com unhas e dentes à porcelana da taça. Não lavo a loiça. A Ella à muito que se calou, volto ao sofá e ao conforto da manta, procuro a inspiração e afago-lhe o pelo! Escrevo umas linhas até sentir de novo o sono.

Sem comentários:

Enviar um comentário