quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

青森市, Aomori-shi

As gotas de chuva não seguem a mesma formação que as gotas de água que caem de uma torneira. As mais pequenas, com menos de 1 mm de raio, na verdade são esféricas. As que crescem mais, deformam-se na base, porque a pressão do ar puxado para cima na queda começa a conseguir contrariar a tensão superficial que a tenta manter esférica. Quando o raio excede cerca de 4 mm, o buraco interior cresce tanto que a gota, antes de se partir em gotas menores, fica com uma forma que quase parece um pára-quedas.
Era como nos sentíamos, sentados frente a frente numa pequena mesa redonda, acabados de cair de pára-quedas! Depois dos pedidos rabiscados no pequeno bloco vincado do empregado, ficamos calados dentro do silêncio incómodo, fugindo do olhar directo um do outro, percorrendo os cantos e recantos em busca de algo para comentar, e eu pensava em todas as coisas que gostava de saber acerca dela. Será que ela gosta de tangerinas, de nabo cozido, de sopa e mantas. Será que ela gosta de dormir até tarde, de chocolate quente, de comida italiana, e do vento e da chuva de folhas que lentamente cobrem as ruas, será que ela gosta de jogar bowling, ou cartas, de ler em voz alta, de cozinhar para dois? que tipo de música ela ouve nos headphones pendurados no bolso do casaco? que livro ela pousa na mesinha de cabeceira sempre que o sono ordena mais alto. E como se os meus pensamentos fossem voláteis e tivessem condensado até aos seus lábios, ela disse:
-é pena já não terem os pratos do dia, aqui come-se bem, tipo comida italiana!
-gostas de comida italiana?
-gosto muito, é das minhas preferidas, se não tivesses ficado a namorar as moscas mortas ainda tínhamos chegado a tempo de comer a lasanha.
- olha quem fala, não fui eu que me babei com a barriguinha peluda!
Ela tem um sorriso fácil, lindo, perfeito. As maçãs do rosto tomaram a cor do cachecol que entretanto deslaçou, as dela parecem Fuji, plantadas no Japão na província de Aomori.
A meia hora que o almoço durou passou a voar, no cruzamento entre o meu caminho e o caminho dela, ficamos a olhar um para o outro, agora sem vontade de fugir!
-então até segunda.
-no sítio do costume?
-sim, pode ser. Antes que ela virasse costas perguntei, gostas de jazz?
-depende do jazz!
-tenho bilhetes para sábado à noite na casa da música.
-a que horas?
-deixa ver, acho que é às 10 da noite. Carlos Martins, talvez não conheças, mas de certeza que conheces Bernardo Sassetti no piano.
-sim conheço, é muito bom. Então às 9h30 na casa da música? Tomamos o tal café antes.

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