Ao olharmos as estrelas é como se observássemos um passado distante; na realidade, o que vemos não é o que são actualmente, mas como eram há centenas de anos. A luz que agora nos chega na maior parte delas começou a sua longa viagem muito antes do nosso nascimento e, no caso das estrelas mais distantes, muito antes da aparição do Homem sobre a Terra.
Olho agora para o passado, no interior dessa luz, há centenas de anos batia compassadamente um coração no meu peito. Nesse tempo era tão cego como Édipo, ele por vergonha de não ter reconhecido a própria mãe, eu pelo amor incondicional a uma mulher!
Com as pontas dos dedos tacteava ao longo da sua pele, semelhante a um mármore frio, perfeitamente liso, salvo pequenos pontos salientes que fazia unir num traço imaginário. Pégasus, soprava-lhe ao ouvido, enquanto ligava quatro sinais por baixo do peito, que formavam um quadrado, é o cavalo alado, os outros três sinais seguintes a garganta e a cabeça. Voltava o rosto para mim, deixando-se cair lânguida sobre o meu braço. Sentia o relevo acentuado de outros três sinais bem próximos na curva do pescoço, cinturão de Órion, murmurava docemente, formado pelas gigantes azuis Alnitak, Alnilam e Mintaka. Um pouco mais acima as estrelas Betelgeuse e Bellatrix completavam a cabeça do caçador Órion, amante de Artemis, trajado com um cinto, uma pele de leão e armado de uma espada. Aninhava-se em mim, os meus dedos percorriam a extensão do seu dorso, sentido a cordilheira de vértebras alinhadas, em busca de uma constelação. Cinco pontos formando uma espécie de W ou M, Cassiopeia. Sentia o ar quente libertar-se dos seus pulmões, quase que adormecida, pedia que continua-se e unindo as estrelas da constelação, falava da figura formada pelas estrelas próximas da constelação de Cepheus, que lembravam uma figura humana sentada num trono de cabeça para baixo. Os gregos associavam essa representação à punição de um crime severo, relacionando-o com o mito de Cassiopeia, a vaidosa rainha da Etiópia! Fechada no sono, respirava tranquilamente, resguardada na concha que era o meu corpo, enquanto eu desfazia os caracóis que lhe caiam pelos ombros. A cegueira provocava uma insónia doentia de contemplar ao tacto toda a sua beleza. Por fim beijava os lábios frios que libertavam um pedido, sonha comigo!
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